terça-feira, 25 de agosto de 2009

Reintegração


Uma notícia de grande destaque esta semana na mídia é a respeito da reintegração de posse de uma área pertencente a uma empresa de ônibus da capital paulista, que foi “invadida” tornando-se uma favela de nome Olga Benário e, até ontem, abrigava mais de 800 famílias.

Diversos fatos chamaram minha atenção neste triste episódio de nossa história, posso começar pela maneira dos nossos mais importantes jornais de nos passar a notícia: “Moradores resistem à reintegração de posse na Zona Sul de SP” (Portal G1); “Cerca de 800 famílias se recusaram a sair de terreno invadido há dois anos e enfrentaram a tropa de choque da Polícia Militar, que cumpria a ordem de reintegração de posse” (Jornal Nacional); e etc.

Fiquei muito assustada ao ver as fotos, vídeos e depoimentos da população “resistente”. Idosos, doentes físicos e mentais, crianças tentando salvar umas as outras, me senti assistindo a um filme de guerra, que possui aquelas cenas atrozes que nos fazem sofrer e agradecer aos céus por isso não existir mais ou aqui no Brasil, é... era isso que eu pensava...

O que muito me assusta é o pensamento que a mídia tenta (e consegue, vide comentários de leitores na internet) instalar nas cabeças brasileiras. Somos levados a ver todas as situações do lado do poder. Um grande empresário tinha um terreno que foi invadido. Querendo de volta o que é seu, entra na justiça para reavê-lo, ganha a causa, deseja a retirada da população que, rebelde, nega a saída. Quanta injustiça com este empresário, e que brutalidade desta população!

E se tentássemos olhar pelo outro lado. O lado de um cidadão que não tinha onde morar e via um terreno lá, vazio, abandonado. Com esforço, ergueu uma casa para si, tentando dar abrigo aos seus (reitero a palavra casa, porque, o que chamamos de “barracão”, é a única casa de grande parte dos brasileiros). Levou a mãe, a esposa e filhos. Após algum tempo, o dono desta terra (vale lembrar que é uma empresa, nem mesmo uma pessoa física) decide que quer o terreno de volta e que, se ele não sair, terá sua casa demolida. Você aceitaria sem resistir?

Não cabe a mim, nem a você, discutir se todos ali assentados têm esta história que “criei” acima. Como alguns justificam, pode sim haver pessoas de má fé, que são “contratadas” por grileiros ou qualquer outro caso contado por aí, mas continuo acreditando que deve ser a minoria, já que estamos falando de 800 famílias, e prefiro não tomar uma pequena parte pelo todo.

Para finalizar, escutei um comentário de Ricardo Boechat da Rede Band News e achei curioso. O nome da favela, Olga Benário, refere-se a uma alemã militante comunista, esposa de Luiz Carlos Prestes, que após ter lutado pela população brasileira foi entregue (grávida) por Getúlio Vargas aos braços de Hitler, acabando em uma câmara de gás. Parece-me um representativo nome para os injustiçados.

3 comentários:

  1. Concordo!

    Como também sei que o empresário tem o direito de reinvidicar aquele espaço que é dele, que ele paga impostos todos os anos, etc...

    O erro não está no empresário, nem na polícia que cumpre um mandato judicial, nem na justiça, que faz comprir uma lei... O ERRO ESTÁ NAQUELES QUE FAZEM AS LEIS!!!

    Era hora do governo relocar aquelas pessoas, procurar saber suas origens e oferecer um solução...antes de autorizar o despejo, o governo e a prefeitura da cidade deveria ter procurado as peesoas ali residentes, explicar a situação e oferecer pelo menos uma opção digna a elas!!!

    A injubstiça nasce no topo da pirâmide...

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  2. Concordo com tudo!
    Eu acho que a culpa vem de muito antes das leis. Vem de um mundo (leis, políticas, economia...) que não dá condições iguais para todos. É um problema que eu sinceramente não sei se tem solução e que muito me inquieta.

    E, na verdade, alguns moradores foram indenizados antes da retirada. Mas não sei se isso é solução, a solução mesmo seria essas aí, oferecer uma opção mais digna.

    Enfim, só não podemos parar de nos indignar!

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  3. Sim, o problema vem muito antes. Concordo com vcs tb.
    Mas hoje não há como continuar culpando apenas a lei e os que a fazem, esperando uma bênção divina em nosso congresso e que todas nossas leis passem por uma reforma. Temos que reagir de maneira mais imediata. Contra essa decisão completamente injusta, que beira o absurdo!

    Hoje o judiciário tem meios hábeis para não aplicar a lei posta no papel, literal e simplesmente; existem meios de se realizar a verdadeira justiça social sem se prender à literalidade dos diplomas legais.

    Existem princípios como a função social da propriedade que permitem que situações como essa não aconteçam. Há ainda o princípio da dignidade da pessoa humana, o bem de maior proteção em nosso país. Tudo isso foi esquecido por esse infeliz juiz que permitiu a realização de uma atrocidade dessa com 800 famílias em prol de algum empresário que, embora possa ter pago todos os impostos, provavelmente não utilizava o terreno...

    Provavelmente ele irá erguer algum empreendimento lucrativo. Tomara que ele nunca se esqueça que será sobre as cinzas das vidas daquelas pessoas...

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